Whisky

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quarta-feira, 12 de novembro de 2014

O trabalho dele é beber

Como o inglês Jim Murray, a maior autoridade em whiskies do mundo, influencia a indústria e prova mais de três tipos da bebida por dia


Ele largou a carreira de jornalista para beber whisky, e não é só um copinho não. São, no mínimo, três scotchs diferentes por dia - o que, no fim de um ano, chega a quase mil garrafas degustadas. o que poderia ser uma história trágica de alcoolismo foi, na verdade, uma virada na história profissional do britânico Jim Murray, de 56 anos. Atualmente, esse beberrão confesso é a maior autoridade no universo do whisky. Murray é o autor do respeitado livro "Whisky Bible", a Bíblia do Whisky, uma edição anual que traz a avaliação de mais de 3,8 mil rótulos da bebida produzida ao redor do mundo.

"Se eu engolisse tudo o que experimento, eu provavelmente viraria um alcoólatra, talvez até um alcoólatra morto", confessa Murray. Qual é o segredo de seu trabalho? Para não errar na dose, ele afirma que apenas sente o gosto da bebida, analisa a cor, os aromas e não engole. Afinal, Murray prova whiskies de todos os tipos, idades e ingredientes exatamente como saem da garrafa, ou seja, sem água e sem gelo. E, para a surpresa de quem desconhece esse mundo etílico, existem excelentes destilarias fora da Escócia. "Eu não diria que o whisky escocês é automaticamente o melhor", aponta Murray. "Há whiskies de má qualidade que vêm de lá. Alguns não foram maturados o suficiente ou foram armazenados sem cuidado e acabam tendo um gosto de sujeira. Há muitos novos players no mercado", dispara o inglês.

Murray tem razão quando fala de novos players. As destilarias escocesas, que antes dominavam o cenário, agora competem com bebidas de qualidade vindas de regiões como a Ásia e a América do Norte. Essa mudança no cenário global aconteceu no início da década de 80, logo após a crise gerada pelo segundo choque do petróleo, quando várias destilarias escocesas fecharam as portas. Como dominavam o setor, deram de ombros quando outros países começaram a se aventurar no negócio do whisky e, de certa forma, perderam terreno.

A Escócia, que exportou US$ 4,7 bilhões em scotch no ano passado, ainda é para o whisky o que a França é para o vinho, mas, aos poucos, está deixando de ter destaque. Nesse cenário, as indicações de Murray são moedas de valor. Assim como as notas do americano Robert Parker têm o poder de influenciar os preços das safras de vinho, as seleções de Murray são convertidas em vendas para as destilarias. "Criamos um selo de whisky do ano para pôr em todas as garrafas do Ballantine's Finest", diz Deborah Craig, gerente da Ballantine's no Brasil. "Murray é a maior autoridade no mundo do whisky. O seu livro tem grande importância", diz César Adames, professor de tecnologia em bebidas da faculdade Anhembi Morumbi.


"Meu livro significa muito para a indústria"

Qual o segredo para experimentar tantos whiskies? Como a "Bíblia do Whisky" é escrita? 
Tenho uma equipe de trabalho que reúne amostras de whiskies de todos os lugares do mundo. Temos que registrar as bebidas, estocar, testar, para depois escrever. Esta parte leva três meses de trabalho sem folga. No resto do ano, visito destilarias e junto material. Chego a experimentar mais de mil whiskies por ano. O segredo é cuspir a bebida. Se eu engolisse tudo o que experimento, eu provavelmente viraria um alcoólatra, talvez até um alcoólatra morto.


Como é sua rotina de trabalho?
Nos meses em que estou organizando o livro, evito viajar, evito sair muito e evito até me relacionar, pois não posso ficar resfriado. Também tento caminhar para exercitar o meu nariz, espirro água quente no rosto para abrir os poros, tomo café para limpar as papilas gustativas, entre outras coisas.


Isso tudo é necessário?
Sim, pois escrevo um livro que significa muito para a indústria e para os apreciadores de whisky. Se meu nariz não está bom, não testo nada. Se as pessoas me perguntam os motivos de eu ter dado uma nota ruim ao whisky delas, eu posso olhá-las nos olhos e dizer que não acredito no produto. É o que garante minha liberdade para trabalhar.



Fonte: terra.com.br

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